Caro leitor caso não tenha lido a parte 1, 2 e 3 deixarei os links aqui.
Parte 2: https://eficientesdeficientes.blogspot.com/2020/02/falsa-acessibilidade-uma-historia-real.html
Parte 3: https://eficientesdeficientes.blogspot.com/2020/03/falsa-acessibilidade-uma-historia-real.html
Oi
gente, hoje voltei para contar a parte final da falsa acessibilidade
que vivenciei no ano de 2015...agora eu gostaria de mencionar um
pouco sobre as minhas dificuldades dentro do ônibus, durante a
viagem até à Universidade.
Quem
conhece o trajeto entre Divinolândia e Poços de Caldas sabe que ele
é formado em sua grande maioria por curvas, longas curvas e uma
grande quantidade de lombadas, certo? Pois então, em uma boa parte
das vezes, ou melhor, na maioria das vezes, alguns motoristas estavam
sempre com pressa, portanto, aumentavam bastante a velocidade, e
imaginem curvas, lombadas e alta velocidade não são coisas que
combinam com uma patologia neuromuscular, hoje tenho a convicção
para afirmar que realmente não combinam rsrs, em alguns dias eles
corriam tanto que eu chegava trêmula em casa, com fraqueza nos
braços, de tanta força que fazia para me segurar no banco do
ônibus, até hoje minha mãe fica indignada de eu ter passado por
essa situação sozinha, literalmente sozinha no banco do ônibus.
Ah
outra dificuldade enfrentada ao longo dos dias era a troca de
motoristas, sim, para mim essa era uma das principais variáveis que
poderia e iria influenciar e modificar o meu dia tanto para ser um
dia bom quanto um dia ruim. Eu entendia que a troca dos motoristas
era algo necessário para a manutenção da logística da empresa, no
entanto, algo que me incomodava bastante é que quando eu estava me
acostumando com o motorista, quando nós estávamos mais à vontade
com a dinâmica e nos adaptando eles mandavam outra pessoa que nunca
tinham me visto na vida rsrs, ah isso com certeza me assustava e
incomodava demais, pois eu tinha que explicar todo o passo a passo, e
mesmo assim, corria risco até de vida rsrs.
Bom,
essa situação mencionada não foi algo que eu passei por uns
dias, eu quero enfatizar bastante, pois foi algo que eu vivenciei
durante todo o ano de 2015, imaginem o stress, o cansaço
psicológico, o medo, mesmo sendo eu a protagonista da história, até
hoje me dá um pouco de aflição ficar relembrando todas essas
situações, acredito que a imaturidade, a falta de visão e os meus
sonhos foram os pilares que me impulsionaram e fizeram com que eu me
submetesse a passar por tudo isso na época, pois eu não sabia a
dimensão, a proporção que isso impactaria na minha vida.
Hoje,
com mais experiência, sinto falar que não sei se optaria passar por
tudo isso novamente, mas a maior certeza que tenho é que mesmo
passando por situações inimagináveis eu tenho plena convicção de
que fiz todas as escolhas certas, e que de alguma maneira, algo que
eu não sei explicar, eu precisava passar por tudo isso, foi uma
experiência transformadora, de pura resiliência, uma busca
incessante por aquilo que muitas pessoas consideravam impossível,
foi um momento que eu tive que me reinventar, que utilizar
estratégias para manter o equilíbrio necessário para que eu
continuasse a minha trajetória, a busca pelo meu sonho.
Agora
chegou o momento de falar sobre algo que vocês aguardaram
ansiosamente rsrs, a queda!!! Me lembro do dia como se fosse hoje,
esse episódio da minha vida aconteceu exatamente no dia 5 de outubro
de 2015, acho que nunca vou conseguir esquecer essa data, de manhã,
tudo aconteceu normalmente, fiz as coisas rotineiras, mas mal sabia o
que estava por vir, já estávamos quase no final do segundo
semestre, ou seja, eu estava quase completando um ano de curso quando
isso aconteceu.
Assim
que o ônibus parou, percebi que era um motorista novo, por isso ele
pediu para que o motorista do carro subisse no ônibus comigo, quando
ele foi subir o segundo degrau, pisou errado, ele escorregou e ficou
lá parado, no chão comigo no colo, não sei explicar o que houve
com as pessoas do ônibus, eram de 25 a 30 passageiros, eles ficaram
somente olhando, sem oferecer nenhuma ajuda, não sei se é por que
ficaram assustados ou se foi falta de solidariedade para com o
próximo mesmo, pois isso já havia acontecido com outras pessoas e
eles continuaram imóveis apenas observando de camarote, eu ficava
perplexa com essas situações, como pode não se comover com o
sofrimento do próximo??? Bom, mas isto não vem ao caso agora, só
comentei para ressaltar como eu tinha colegas de viagem “preocupados
e amorosos” rsrs.
Naquele
momento lá no chão eu não conseguia pensar em nada, estava
visivelmente abalada, mas pelas minhas contas ficamos uns 2 minutos
estagnados no chão, até que o motorista conseguiu se levantar e me
colocar no banco do ônibus. Parece que o tempo parou durante o
trajeto, na minha cabeça eu só pensava que queria chegar em casa e
desistir de tudo, não queria mais passar por aquilo, estava disposta
a colocar um ponto final naquela história.
Assim
que chegamos na Universidade, o motorista novo pediu para um
guardinha me descer, pois estava com medo, lógico né? depois de
tudo que havia presenciado naquela manhã, o guardinha me desceu
tranquilamente, mas o que eu mais lembro é que cheguei às 7:00 como
todos os dias e eu só teria aula às 8:50, então não fui para a
sala de aula, segurei o choro e fui para um “xerox”, um lugar
escondido do lado da cantina, e o que eu mais pensava lá é que nada
importava mais para mim, uma infinidade de sentimentos me diziam que
tinha que parar com isso, que não ia dar certo, enquanto uma pequena
interrogação dizia na minha mente que isso era momentâneo e eu
iria dar um jeito, como sempre dei em tudo na vida.
Tomei
minha decisão! Eu estava prestes a desistir de tudoooo!! Por isso
liguei para minha casa chorando, minha irmã atendeu o telefone, ela
ouviu minha voz assustada e falei para ela falar para o pai me buscar
por que eu não poderia ficar lá, ela me perguntou o porquê, mas
não tive a coragem de falar que algo que sempre me amedrontava
aconteceu, assim, ela disse que daria o recado ao nosso pai.
Neste
momento minha amiga chega lá no “xerox” que eu estava escondida,
ela disse que como não me achou na sala de aula pensou que algo de
ruim teria me acontecido e por isso foi me procurar, ela me deu
alguns conselhos falando que eu não poderia desistir, que eu tinha
que continuar, pois era o meu sonho, mas eu já tinha tomado a minha
decisão.
Passados
50 minutos vejo que o carro dos meus pais entrar pelo portão,
sensação de alívio misturado com medo, pois como eu falaria para
os meus pais que não iria mais para a faculdade??? Esse não era só
o meu sonho, eles também sonhavam com o momento da minha colação
de grau, de falar que eu tinha cursado uma faculdade, de me virem em
um bom emprego, tinha medo de acabar com tudo isso, tudo que eles
haviam sonhado, planejado...
Meus
pais foram ao meu encontro perguntar o que havia ocorrido, então eu
contei tudo e já deixei claro que iria desistir de tudo, no entanto,
meus pais não se conformaram com a situação, eles queriam que eu
ficasse na faculdade para assistir aula, mas eu não tinha condições
psicológicas para isso, falei que queria ir embora com eles, mesmo
contrariado ele me colocou no carro e voltamos para casa.
Posso
dizer com clareza e convicção que meus pais foram as pessoas que
não me deixaram desistir, eles não aceitavam de forma alguma a
minha desistência, meu pai principalmente foi argumentando durante
toda viagem o porquê eu deveria continuar, ele me deu motivos para
seguir em frente mesmo quando eu pensava que tudo tinha acabado,
porém mesmo com a insistência do meu pai eu já tinha decidido que
não pisaria mais na faculdade.
Então,
quando chegamos em casa, algo incrível aconteceu, até hoje eu
acredito que foi um sopro divino me avisando para tentar, prosseguir,
continuar... eu sei que muitas pessoas que não acreditam podem até
rir desta minha colocação, mas para mim, foi um aviso para eu
continuar, tenho certeza de que não foi uma mera coincidência!!
Assim
que chegamos em casa encontramos uma propaganda da PUC, escrito na
capa “NÃO DESISTA DOS SEUS SONHOS”, isso nunca havia acontecido,
a Universidade nunca tinha entregado panfletos no meu bairro, como
pode?? Bem no dia em que eu estava prestes a desistir?? Isso ficou
por horas na minha cabeça, e no final do dia, eu que tinha uma
opinião formada, já tinha mudado completamente, refleti muito sobre
os incentivos do meu pai e esse “empurrãozinho” do destino e
cheguei à conclusão de que continuaria tentando, e ao mesmo tempo
tive um “insight” para tentar buscar um novo meio de transporte
para o ano de 2016.
No
outro dia lá estava eu no ponto de ônibus rsrs, quando chegamos na
Universidade, uma passageira, que era coordenadora do ônibus
sentou-se ao meu lado e disse que queria conversar comigo, no mesmo
momento senti um arrepio, sabia que era mais alguma coisa tentando me
tirar do meu foco novamente, então de forma breve ela me falou que
os motoristas estavam com medo de me subir e descer do ônibus devido
à situação de ontem, e que à partir de hoje eles não teriam mais
essa responsabilidade, ou seja, eu teria que me virar, pois se eles
quisessem poderiam continuar com a função, mas não teriam mais
essa obrigatoriedade. Pois é, o bicho pegou né? Como eu iria fazer?
Foi tão duro ouvir isso, mas a essa altura do campeonato eu já
tinha passado por tanta coisa que eu nem consegui chorar, apenas
guardei isso para mim e não contei a mais ninguém.
Mesmo
tendo passado por tudo isso, e acreditando que estava forte e
resiliênte, alguns dias depois veio outro obstáculo que me
atropelou psicologicamente literalmente rsrs, nós estávamos
viajando de micro-ônibus no momento, porém, como tinha aumentado 4
passageiros estava quase decidido que iríamos de ônibus, aquele
grandão, mil vezes pior para mim, com degraus mais altos e
corredores mais apertados, lá estava outro fato que eu precisava de
equilíbrio mental para superar, aqui vale ressaltar que os
passageiros do ônibus preferiam muito mais viajar com o ônibus
grande, e sempre me olhavam “torto”, pois eu era a culpada deles
não usarem esse tipo de transporte rsrs.
Naquela
noite eu chorei mais um pouco (acho que esse foi o ano que eu mais
chorei, rsrs, pois quando eu estava tentando me estabilizar vinha um
“terremoto” e me desestruturava totalmente), senti medo, e
novamente ocorre algo extraordinário, que parece que de alguma
maneira dava algum jeito para eu continuar, os 4 passageiros
desistiram, e assim, para a minha alegria continuaríamos com o micro
ônibus.
Alguns
dias depois decidi que no próximo ano eu iria com um novo
transporte, mais acessível e menos arriscado, e comecei a lutar para
isso, então enviei um e-mail para uma deputada, que também é
cadeirante e contei toda a minha situação, as dificuldades
vivenciadas, e ela encarecidamente me enviou um oficio solicitando o
transporte, logo, fui até a administração da cidade com o oficio,
e tive total apoio, o gestor da época no mesmo instante entendeu
todas as dificuldades e assinou a autorização para o meu
transporte, esse foi um dos momentos mais felizes que tive naquele
ano.
Portanto,
quero informar a todos vocês que acompanham nosso Blog, que nos
próximos anos eu frequentei a Universidade com um transporte mais
justo e digno e que não tive mais problemas com relação à esse
quesito. Hoje estou FORMADA, sou administradora com muito orgulho,
realizei meu sonho! Estou plena, feliz, realizada e agradeço
incessantemente à todos que de alguma forma me ajudaram a chegar até
aqui. Agora estou enfrentando mais um desafio, a minha entrada e a
ascensão no mercado de trabalho. Um Beijo no coração de todos que
estão acompanhando a minha jornada.
Caro leitor caso você estiver gostando deixe seu feedback, assim sabemos se estamos indo na direção certa.
E caso queiram compartilhem em suas redes sociais.
Dois cadeirantes portadores de AME, contam um pouquinho sobre suas vidas e fazem o leitor refletir sobre as questões e dificuldades do cotidiano. https://eficientesdeficientes.blogspot.com/
Nos acompanhe no twitter https://twitter.com/EficientesD
Comentários
Postar um comentário